Esconderijo

SEJA VOCÊ

Seja você, como eu jamais consegui ser eu. Viva a sua vida, como se a minha não estivesse ao seu lado, e cubra-se porque a tempestade está por vir. Folhas serão arrancadas das árvores com tamanha agressividade, noites se transformarão em dia em segundos, e o mundo estará de cabeça para baixo. Ainda assim, continue lendo, pois mesmo que o mundo esteja com a cabeça pra baixo, você ainda está com a sua no lugar. Ou melhor, o seu pensamento está. Espero que suas ideias não caiam com tanta turbulência.

Boa leitura, Amanda Oliveira.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

SUSPIRO de hoje: Pra bonito




Pra bonito

Ando roendo unhas, chorando pelos cantos e acordando no meio da noite, crises de choro fecham o meu dia, e lembranças ruins vem á tona. Topo com pessoas na rua as quais não suporto, saio de casa já sem ânimo para nada, e talvez seja mais fácil me desfazer, me tornar pó. Porque por dentro estou oca, vazia. - sinto receio de mim mesma, quiçá vergonha de admitir que ninguém me admira nem eu mesma. Dói ser assim,

Escrevo porque não é por ser iludida, que sou analfabeta. Caí no conto do vigário e não deixo de me repreender todos os dias que acordo, é. Você pode até dizer que eu não deveria me colocar tão pra baixo e achar que tantas complicações são culpa minha, mas são. Eu sei que muitas mulheres já se submeteram por amor, porém, o problema é que eu não me submeti por amor á mim, e sim a um sujeito bem vestido, sexy e inteligente o bastante para conseguir me seduzir a ponto de eu me esquecer que era uma feminista de primeira, e entregar minha cabeça e coração para rei em uma bandeja.

Vou admitir que tive um pré conceito em toda a minha vida, o de achar que mulheres apaixonadas sempre são as burras, porque mulheres inteligentes não se apaixonavam, porque a paixão na minha opinião era que as paixões não as deixavam burras ao contrário, as burras que se apaixonavam. Acho que te tanto me achar tão intelectual, esqueci e abaixei a guarda, esqueci que existem pessoas com mais artimanhas do que eu, e me entreguei de corpo e alma para esse homem. Desculpa por não te dar ouvidos, é que além de deixar menos inteligente, a paixão nos torna cegas e surdas.

Até posso estar desmerecendo a paixão, e estou mesmo! Paixão não é nada perto de amor, é uma coisinha boba que nos atrapalha, que não nos deixa raciocinar, é uma porcaria que não enxerga dentro, que só se importa com a aparência, e digo e afirmo, não existe “amor á primeira vista” e sim “paixão á primeira vista” não sei quem foi o idiota que inventou essa expressão medíocre.

Então aviso agora, saia da minha vida ou você irá se ferir profundamente como eu me feri. Eu sou afiada, e não faço sentido, pode ser excitante, porém perigoso. Você conseguiu me deixar sem palavras, tonta, trêmula. Isso não acontece com freqüência, então se dê valor, você merece coisa melhor,  não tente ser mais que meu amigo, eu iria fincá-lo e arranhá-lo todos os dias, e você não iria conseguir conviver comigo. Pode crer, de perto sou mais louca.
Talvez eu seja o tipo de pessoa que só serve pra bonito, que não tem nada de interessante por dentro, talvez eu só sirva para se admirar, sou quebradiça como uma boneca de porcelana. Um dia quebro.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

SUSPIRO de hoje: Entre a cidade e o interior, meu primeiro amor


Entre a cidade e o interior, meu primeiro amor
Chovia uma chuva pesada e que se comparava a mim depois de um cansativo dia de trabalho. De forma que meu guarda chuva branco com bolinhas azuis não adiantaria grande coisa. Ainda me lembro que quando era criança, nos dias de chuva como essa, eu saia correndo de casa, percorria a fazenda para chegar até o balanço. Minha mãe lá da cozinha gritava sobre os perigos da chuva e árvores e todas essas coisas, eu ria como se fosse invencível, mas quando dava aquele clarão no céu, eu saia correndo e logo antes que  chegasse a tempo, vinha aquele estrondo, e eu corria para baixo da mesa da cozinha, e sempre aproveitava para beliscar alguma coisa. Pensamento estranho esse meu, e sim me lembrou daquele menino que me apaixonei, quando ainda tinha quinze anos, e andava de balanço.
Lembro-me de como ele era bonito, tinha uma beleza singela, serena, poderia até dizer que possuía uma beleza educada, que não agredia ao admirar, era alto, mas não magro e o desajeitado mais ajeitado que eu conhecera. Ele sabia escutar, e olhava nos olhos de quem quer que fosse do delegado da cidade até o homem que trazia o leite. Ele era cavalheiro, mas às vezes conseguia ser um tanto devasso, somente nas horas certas. Ele contava estórias lindas, sobre princesas e príncipes, mas eu sempre preferia as histórias que tinham um cavalheiro que a roubava do príncipe e saía a galope, ele sabia descrever perfeitamente o vento entre os fios de cabelo castanho claro da bela dama indefesa. Então quando eu andava de balanço, me criava no conto de fadas, e eu sentia o vento entre meus cabelos.
Também me lembro dos carinhos que trocamos e de como ele era sensível, da forma que ele tratava as pessoas, sem pensar em receber nada em troca, como se isso fosse involuntário. Eu o amava pela forma que ele se vestia, pensava, amava, andava, chorava e até mesmo pela forma que ele ficava emburrado, sendo que o vi assim poucas vezes. Ele era o tipo de pessoa que preferia sofrer sozinha, pois nós combinávamos nisso também, quando chorava eu, chorava longe de todo mundo, de preferência em frente ao lago, assim me parecia que tinha tanta água no mundo, que ninguém iria se importar com as águas salgadas que estavam escorrendo pelos meus olhos, e muito menos com o tsunami que estava se formando dentro de mim.
E por fim, lembro do dia que sua família se mudou para a cidade grande, chorei vários dias seguidos pensando que nunca mais o veria, e da saudade que eu sentiria, e que não, era uma saudade crônica, não iria passar, porque nunca mais o teria como antes. Ele era o meu primeiro amor. E eu sentiria saudades dele para sempre, porque o primeiro amor a gente nunca esquece. Sei que depois dele vieram outros, que não eram a perfeição em carne humana como ele, tinham defeitos visíveis a olho nu. Tentei ligar para ele depois que ele se foi, mas nunca consegui falar com ele ao telefone, eu queria abraçá-lo e dizer que o nosso amor era para sempre.
Em meio dessa chuva pesada, corri até um bar, pedi água ardente. O garçom trouxe e satisfeito com o meu decote o observou atentamente até  perguntar se eu desejava algo mais, penso que ele gostaria que as funções se invertessem, mas não foquei no pensamento. O que me chamou atenção foi o homem sentado duas mesas á minha frente, era ele, era o meu primeiro amor.  Me levantei e fui até ele, dei dois tapinhas de leve no seu ombro como quando éramos adolescentes, ele se virou, me observou de uma forma parecida com o garçom e por fim perguntou quem eu era. Com um tom dado. Trocamos poucas palavras, eu paguei a minha conta e fui embora.Eu tivera uma miragem, quisesse eu que ele fosse de verdade, Dobrei a esquina. Fiz sinal para um táxi e entrei, não havia percebido que tinha parado de chover, uma leve brisa estava presente no ar, encostei minha cabeça no banco, e me introduzi na paisagem de sempre   o cavalo, eu princesa e  ele,o cavalheiro ao meu lado.


sábado, 9 de outubro de 2010

SUSPIRO de hoje: Chovia lá fora





Chovia Lá Fora


Eu estava caminhando por ai, depois de um almoço sedentário no Mcdonalds. A rua estava tranquila, dava para se ouvir o barulho dos pássaros fugindo da tempestade, diferente do tumulto que estava no Mcdonalds, num domingo à tarde. Os pássaros cantavam ao mesmo tempo em que fugiam isso me dava uma sensação de paz, eu queria ficar para sempre ali, ouvindo o canto dos pássaros.
Eu não sabia cozinhar, e nunca quisera aprender, minha mãe cozinhava muito bem, muitas vezes até se oferecia para me ensinar, mas fora uma coisa que eu nunca havia demonstrado interesse. Admito – eu já havia tentado, mas o resultado tinha sido fumaça e fogo, nunca mais eu entrara em uma cozinha para fazer jus ao nome. Por isso sempre fui do tipo de pessoas que pede comida por tele entrega ou almoça fora.
Resolvi correr o risco de conseguir umas calorias a mais indo até a doçaria duas quadras dali, seria um bom lugar para enxergar a água caindo do céu cinzento, pensei em certo momento, em ir até em casa pegar um guarda chuva e uma capa, mas naquele dia eu queria me molhar, chegar a casa encharcada e correr para um banho de banheira, bem quente. Então, caminhei lentamente pelas vielas, como quem não quer nada. Quando avistei a doçaria, vi que a porta estava fechada, porém tinha uma plaquinha, estava escrito aberto, isso significava que os funcionários já haviam olhado para o céu.
Quando atravessei a rua, pingos de água começaram a dançar  na minha cabeça, estavam gelados, corri até a doçaria. Abri a porta, feliz quando avistei um monte de tortas na vitrina, eu queria morar lá. Sentei-me à mesa ao lado da janela, e quando a garçonete veio, pedi a torta mais calórica, comi satisfeita saboreando cada garfada. Um casal abriu a porta, e com eles entrou um vento frio e gotículas de água. O casal deixou seu guarda chuva atrás da porta e sentou-se a minha frente.
Olho para a mulher, quando ela pede somente dois cookies, o homem pede um chocolate quente. Ele pega a mão dela e fica esfregando com um gesto de carinho. Quando o homem se vira para tirar o casaco, percebo que o conheço,percebo que já senti seu corpo pesar sobre o meu, e que ainda me vem lembranças que pareciam estar extintas. Sim, era ele o meu amor, o vulcão que pensara estar extinto em mim, mas não, ele estava dormente, pronto para a qualquer hora voltar à ativa.
Observei-o da cabeça aos pés, esperando achar algo de diferente, alguma cicatriz, algum arranhão. Algum sinal de mudança, mas não o encontrei de primeira. Senti que agora a torta pesava em mim, ou será que eram as lembranças que estavam vindo á tona ? Preferi acreditar que era a torta mesmo, mas logo em seguida, fui levada para o nosso aniversário de um mês, nossos momentos felizes, nossas brigas e principalmente nossas reconciliações.
Ele não me reconheceu, então percebi que eu sim havia mudado as roupas, o corte de cabelo, na verdade eu, há pouco tempo parecia, fisicamente com a mulher que o acompanhava. Porém, eu também havia mudado minha forma de agir, pensar. Muitas coisas haviam mudado desde que nos separamos. Eu fiz novos amigos, perdi pessoas amigos para o mundo, me encantei com vários, perdi a confiança de alguns, e guardei segredos de outros. Menti para agradar, agradei por mentir. Falei a verdade, acabei com a amizade.
Não tive coragem de cumprimentá-lo. Nem de ser apresentada a sua nova companhia. Eu queria sair dali, e não voltar tão cedo, eu queria tomar banho de chuva e ficar molhada, eu queria chorar e confundir minhas lágrimas com os pingos d’agua que cairiam sobre mim.  Eu não estava com ciúmes dele, nem com vontade de senti-lo, de amá-lo, eu só queria sair, e esquecer de que ele existe, porque senti, que cada vez que o visse vulcão voltaria a ativa. Eu queria apagá-lo da minha memória, porque eu me lembrava das coisas lindas que passamos, mas os que marcavam que deixavam cicatrizem, que doíam mais, esses sentimentos que se instalavam em mim, como formigas no açúcar.
Assim, paguei a conta, rapidamente sai da doçaria, e lá fora chovia, dobrei a esquina e então abri os braços e deixei a chuva me levar, enquanto minhas lágrimas se confundiam com chuva...

domingo, 26 de setembro de 2010

SUSPIRO de hoje: Dias atrás

Dias atrás
Dias atrás eu saberia muito bem como te dizer o que eu queria, as palavras estavam na ponta da língua. É... Você sabia que eu estava nervosa e nem por isso tentou me acalmar, era porque queria que eu ficasse ainda mais aflita e não conseguisse dizer tudo. Tudo aquilo que estava premeditado, calculado e repensado, todas as palavras certas.
Naquele momento eu abri a boca, mas som nenhum saiu de lá, só o meu hálito com cheiro de hortelã, eu fiquei ditando o alfabeto: Ah... Be... Então você começou a me interrogar como se eu tivesse cometido algum crime, desesperado. Se eu tivesse sóbria teria falado tanta, mas tanta coisa, eu teria arrancado tudo que estava preso na minha garganta. Tudo que eu aguentei por muito tempo, por falta de coragem, por amor muitas vezes, e outras admito, por pena.
Eu odiei o modo como você estava me tratando, como se tudo o que eu falasse não fizesse sentido, mas eu não queria deixar você, por isso aguentei, eu saberia que a distância entre nós faria mal á mim, você eu não sei, não tinha mais certeza. Eu sentiria muita saudade sua. E você como se sentiria? Resolvi perguntar para você, foi uma má escolha. Você transformou todas as minhas palavras em acusações. Minha paciência estava acabando. Vi, que seus olhos se estreitaram quando mencionei a palavra distância, você me fitou agressivamente, não sabia bem o que isso significava, mas não parecia bom.
Eu não via problema na palavra, era com outra qualquer. Eu estava cansada de você, em um só dia você tinha conseguido me tirar à paciência de meses. Talvez, naquele momento você não tivesse percebido, mas eu estava furiosa. Escutei tudo o que você tinha para me dizer, quando acabou eu nem disse adeus, eu simplesmente me mandei. Era muito cansativo tentar ser uma pessoa certinha e perfeita. Por que você não comprava uma Barbie hein?
Não sei como, com quem e aonde você está, pouco me importa. Eu continuo sendo a mesma imperfeita de sempre, cá com meus botões. Lá, mas bem lá no fundo eu sei, que onde quer que você esteja você se lembra de mim, nem que seja por um segundo, a minha imagem vem na sua cabeça. Fico feliz se for verdade, porque seria lamentável, você esquecer-se de uma boa parte da sua vida.
Eu odeio você, principalmente porque você faz parte de mim.  Odeio você porque sem você o céu fica nublado, meu cabelo embaraçado e nada faz sentido. Porque a cidade fica vazia, eu fico perdida, sem rumo.  Porque mesmo te odiando, eu te amo. E não adianta fingir, já fiz tudo para mudar isso, e mesmo assim. As ruas ficam silenciosas, as músicas não tocam e eu fico sem ritmo. Eu sei que isso é mesquinho, eu culpo você por tudo o que acontece de ruim na minha vida, mas e daí? Você nem se importa. Essa sou eu.  E quer saber de uma coisa, um dia essa dor vai ter de acabar, ela tem de passar. Acho que eu fugi (fingi) porque eu sabia que não adiantaria me machucar mais, meu amor por você não mudaria tão cedo, e para que então sofrer ainda mais? 

terça-feira, 14 de setembro de 2010

SUSPIRO de hoje: Frágil



Frágil

Talvez esse modo como eu trato os outros, o jeito como eu sou vista, seja um pouco difícil para você.  Eu gosto de parecer forte, de ser pela ótica de outros inatingível, mas a gente nunca consegue  ser assim o tempo todo. Ninguém é blindado. Eu não sou forte, alguém já te disse que as aparências enganam? Eu sou frágil. Agora esse medo me vem e ninguém eu enxergo ao meu lado. O vento bate no meu rosto com um tapa, e ninguém para me acolher, pra me dar colo. Só você me conhece, só você me enxerga como eu sou. Eu vivo a minha vida tentando parecer uma coisa que eu não sou, para poder viver sendo eu mesma sem a intervenção de ninguém.
Desilusões amorosas todo mundo tem, ou um dia vai ter afinal, ninguém é blindado. O descontentamento com o mundo que faz a diferença. Uma pessoa como eu, frágil não suporta mais do que pequenos esforços.  De todas essas declarações eu não imploro que tenha pena de mim. Sou competente o bastante para aguentar o tranco, como se diz. Além do mais, depois de tanto tempo parecendo forte acho me tornei alguém menos frágil.
Mas o que é ser frágil e o que é ser forte na minha vida? Eu posso ser os dois. Acho que sou forte o bastante para admitir que sou frágil, e que preciso de alguém. Mas sou tão frágil, me cobrindo com a máscara da “pessoa invencível”  sei lá.  É como se eu necessitasse de uma pequena comparação para me entender sabe? Ás vezes eu me surpreendo comigo mesma, em como eu consigo driblar essas coisas que me desafiam. Já consegui aceitar coisas, e nunca consegui compreender porque.
Porque eu sou assim frágil mesmo, não tem outro jeito. Isso talvez seja ruim para mim, porém não vejo atingir os que amo.  Eu quero ser como eu sou, acho que eu me achei no meio de tantas eu, criadas em mim. Então se você me aceita do jeito que sou... Deixa-me ser frágil, deixa-me ser assim livre, deixa-me ser assim verdadeiramente eu.
Não tenho nada de grandioso para dizer, a vida me fez assim com medo, medo de errar medo de ser frágil, quebradiça como vidro.  Medo de que a fragilidade me tornasse covarde. Sim, gosto de ter muitas em mim de me fazer em muitas, o fato é que eu gosto de me dividir, eu não sou nenhuma maluca nem aventureira, sou como uma rosa, geralmente quando as pessoas olham uma rosa, focam somente em suas pétalas, mas só quando a enxergam de verdade, percebem que toda rosa tem espinhos. Porém esquecem que uma rosa é o conjunto de tudo isso, e uma rosa não é uma rosa sem suas pétalas.
Acho que, se eu tivesse percebido antes que na minha fragilidade é que está  minha força, eu não teria tentado me camuflar tanto, me esconder tanto de você. Se eu pensasse hoje, eu não teria tantos “eu” dentro de mim, mas não teria graça, porque não seria eu, não seria frágil...

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

SUSPIRO de hoje: Dias de cão



Dias de cão
Indefesa, sozinha, desamparada assim que me senti quando você desapareceu. Eu me senti como um vira-lata com frio, no escuro num dia de chuva. Você bateu a porta e meu coração acelerou e ficou fazendo um barulho novo para mim: Tum Tum Tum Tum. Eu já sentia meu coração bater mais forte quando o telefone tocava, e eu sonhadora, esperava ser você ao telefone, dizendo que sentia a minha falta.
O tempo passava e eu ficava pensando se você estava diferente, se tinha cortado cabelo, com quem estava almoçando.Você me deixou no escuro.Eu ficava fazendo suposições, porém o que eu desejava mesmo é que alguém ascendesse à luz. Mas eu não me deixei abater por esses sentimentos crônicos, que vinham em mim feito rinite, cíclico. Eles vinham em momentos, não vou ser sentimental e dizer que eu vivia pensando em você. Meus dias tinham assuntos que me consumiam o dia inteiro, mas quando chegava à noite eu ficava observando os cristais no meu lustre que cintilavam, e lá se vinham os sentimentos infestarem a minha cabeça.
Mas eu sentia muito a sua ausência. E eu gostava de você porque você fazia aflorar o que havia de mais escondido em mim. As coisas boas, e as ruins... Todavia era bom saber quem eu era com você.  Só que havia um problema, eu era a sua sombra, a sombra do seu coração, tudo o que você dizia, mesmo que eu não concordasse dava um jeito e achava uma explicação razoável, e também concordava. Às vezes parecia infantil
Você tinha razão em tudo, porque você era a minha razão. Fazer o quê?Não era pior do que parecia ser. Não achava nenhuma outra forma de ser feliz a não ser ao seu lado, se eu vivesse sem você eu ficaria feliz e sorriria em certas horas, mas nunca encontraria a felicidade de verdade, porque sabia que ela, só com você. Acho que você não era forte o bastante para carregar o meu pesado coração.  Eu estava me sentindo tão...
Eu me sentia sendo um carma para você, como se eu fosse um cruz e você não pudesse me carregar e por isso se livrara de mim com tamanha pressa. Na primeira oportunidade que você preso a cruz, pudesse se desprender você fugiria, e me deixaria como um vira-lata abandonado. Solitário. Mas querido, você não tá entendendo não.Eu fui ao médico e consegui um remédio para rinite, eu sou feliz e quando o telefone toca nada acontece com o meu coração. Meus dias de cão acabaram!

domingo, 5 de setembro de 2010

SUSPIRO de hoje: Mais açúcar, Bicho Papão e Duendes



Mais açúcar, Bicho Papão e Duendes
A caminhonete vinha lá da cidade grande, onde nem se ouvia o canto dos pássaros. As árvores tinham folhas verdinhas verdinhas, mas ninguém sentava na sombra dela pra sestear. Todo mundo vivia ocupado e não tinham tempo nem para almoçar direito. Assim, todos os  primeiros domingos do mês a família da cidade grande da Dona Mariana e do Seu Pedro ia até  a fazenda para o tradicional almoço de domingo.

As crianças gostavam muito de jogar bola naquele campo gigante onde não se enxergava o fim, só a cerca que separava uma propriedade da outra. E a mãe não ficava gritando lá da cozinha para não jogar a bola para fora da grade. Tudo era mais fácil. Só nos domingos por que a Dona Mariana e o Seu Pedro acordavam com os galos e dormiam com o entardecer, os velhos não adoeciam, e tinham medo do barulho da cidade grande. A filha preocupada com os pais sempre queria que eles fossem morar com a família.

Nos feriados eles ficavam na fazenda até tarde, na hora do café da tarde, com bolo de fubá para os adultos e bolo de cenoura com cobertura de chocolate para as crianças, o menino travesso sempre colocava mais açúcar no leite da vaca, quando  a mãe não via. A Vó enxergava, dava uma piscadela para o menino e fingia que não tinha visto nada. Vó é assim mesmo, mamão com açúcar.

Depois, as crianças cansadas de correr pelo campo iam sestear na sombra da árvore bem gigante.  Vovô tinha prometido transformá-la em uma casa da árvore, mas era um segredo, não podia contar para ninguém, a mamãe não ia deixar, dizia ela que o Vovô era muito velho e não podia ficar se esforçando tanto. Depois de descansar todos iriam voltar para a cidade grande, a velha Mariana iria ficar abanando até o carro sumir na estrada e pensando no que faria no próximo almoço de domingo.

Quando a família da cidade grande chegasse à casa todos iriam se deitar, e as crianças ainda com o gosto da cobertura na boca iriam brigar para não escovar os dentes. A mãe exausta diria que se eles não escovassem os dentes, pela noite formigas iriam se alojar em volta de suas bocas para comer a cobertura. As crianças assustadas corriam pela casa até o banheiro para escovar os dentes, o menino travesso escovaria muito muito para as formigas não vir, porque ele tinha colocado mais açúcar.

No meio da noite, enquanto, o papai trabalhava no escritório e a mamãe lia um livro no quarto, o menino travesso gritava tendo  um pesadelo com bicho papão e duendes verdes bem da cor das árvores.  O pai que estava no cômodo ao lado corria pelo corredor, tal como as crianças com medo das formigas. Acordava o menino travesso, suado do pesadelo e perguntava o que ele tinha sonhado. O menino contava ao pai, que estava resolvido a  contar uma história para o filho dormir.

_Dorme filho._ O pai respira e começa a contar a história que sua mãe contava para ele, que tinha o mesmo medo de bicho papão e duendes_Era uma vez um menino chamado João e sua irmã Maria, que moravam em uma casa perto da floresta....

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

SUSPIRO de hoje: Eterno, simplesmente para sempre



Eterno, simplesmente para sempre
Meu amor por você é para sempre, quando ela olhar pra você, com certeza não vai te olhar do mesmo jeito que eu te olho, quando ela te beijar, nem mesmo quando te abraçar, nunca vai ser a mesma coisa, nós somos um só e você insiste em nos separar. Eu sei que meu amor por você é eterno, simplesmente eterno porque não há um minuto nas vinte e quatro horas do dia que eu não pense em você. Eu me sinto mal, eu sorrio, eu almoço, janto, e fico pensando em como seria se você estivesse ao meu lado naquele instante. . Para sempre nunca foi uma palavra difícil para o nosso amor, ele se fez (para sempre) por si só, começou a andar sozinho...
Enxergue-me, olhe para mim e veja como eu fiquei sem a sua presença, como eu fiquei com a sua ausência, sim eu estou muito bem, por fora. Estou com umas olheiras, mas nada que uma base não faça. Por dentro eu estou um lixo. Palavras e palavras voam pelo meu pensamento e só uma permanece, Você. Estranho né? Na verdade não é não, sempre foi assim, penso que sou eu a que mais ama, porque sempre existe um que ama mais que o outro, não negue.
Amar não é o bastante para você, eu não tenho uma fita métrica aqui comigo para  medir o meu amor por você, aliás, ele não tem medidas de quão grande é, se eu tentar medi-lo tenho certeza que parecerá muito menor do que é. Convenhamos que para você amar não é o bastante, talvez nos seus seis, sete anos de idade tenha sido, mas agora meu bem, não é. Você exige muito mais do que eu posso oferecer, você precisa de muito mais do que amor, às vezes eu penso que você é o necessitado aqui, não eu. Você que precisa de mais coisas, para mim  o amor basta.
Basta porque é verdadeiro, e se é verdadeiro eu não me importo em como você fica perto dos seus amigos, em como você é arrogante ao telefone quando tá no serviço, tudo isso para parecer que você manda em mim, Ah... Se eles soubessem. Na verdade eu me importo, mas não falo. Ainda te amo, eu não sei em como o meu cérebro ainda não registrou que eu não quero mais te amar, não quero. Você está com ela e eu com outro. Mas nós sabemos quem amamos, não é?



sexta-feira, 27 de agosto de 2010

SUSPIRO de hoje: Erros e Acertos


Erros e Acertos

Eu me arrependo sinceramente do que não fiz. De tudo que deveria ter dito e não disse e principalmente do que deveria ter aprendido e não aprendi. Um desses arrependimentos foi não aprender a mentir, não aprender a mentir para mim mesma. Encarar o espelho e dizer: Ei, você não é pra mim, eu não te amo. Não sei se adiantaria muita coisa, pois de tanto teimosa que sou não iria acreditar em minhas próprias mentiras. Seria a burra que acreditou, ou a cínica que mentiu?
Eu me arrependo sinceramente do que fiz.  De tudo que não deveria ter feito como ter crises de choro na frente de pessoas que não precisavam me ver naquele estado. Como chorar na sua frente e deixar você me ver como eu sou de cara lavada, e sem pose.  Eu não queria que acontecesse desse modo.  Arrependo-me de ter quebrado pratos, copos e vasos valiosos ou meras quinquilharias de raiva, por ódio de mim e do mundo. Arrependo-me de sair por ai sem ter o que fazer e do nada aparecer em meus pensamentos a sua imagem, de deixá-la entrar e não expulsá-la, de fingir ser o que não sou para agradar você  e mais outros, só por medo.
Eu me orgulho de saber mentir para os outros. Mentir quando eles mais precisam e contar piadas sem graças copiadas de um programa humorístico sem audiência, e rir delas sem a menor vergonha. Mentir para você quando eu estava destruída por dentro e por fora uma máscara me cobria. Mentir que eu não estava apaixonada só para curiosos não perguntarem o nome do sujeito: Você.
Eu tenho vergonha de não saber expressar meus sentimentos para o mundo. Sentimentos que estão tão sufocados que a qualquer minuto poderiam sair pela minha boca sem eu perceber. Vergonha de não admitir acreditar em amor perfeito, de sorrir de tristeza, vergonha de ser tão cruel a ponto de machucar profundamente uma pessoa que amo só para me sentir melhor.  Vergonha de gritar a sua falta, mas calar. E vergonha de ter expulsado pessoas amadas da minha vida, por não saber amar.
O problema é que só sei amar sofrendo, sorrir chorando e falar gritando. É que eu não sou sempre eu mesma e às vezes me afasto de mim e levo minha tolerância junto. E rótulos serão sempre rótulos, existem sentimentos que não precisam de nomes, só de alguém para senti-los.  O que eu sinto, ainda não tem no dicionário.

sábado, 7 de agosto de 2010

SUSPIRO de hoje: Cinza



Cinza
Minha vida ficou sem sentido sem você, não sabia o que dizer o que fazer para mudar isso. Era difícil admitir que você fosse a causa da minha infelicidade por meses, mais difícil ainda foi tentar apagar você da minha lembrança.
Eu não sabia o que estava acontecendo comigo ao certo, eu estava ficando cinza, não sabia se estava triste a ponto de ficar de luto e vestir só preto, ou em paz e só vestir branco. Então eu comecei a me sentir cinza, sem graça, meio termo, neutra, na verdade eu me sentia presa. Era como se eu fosse uma criança feliz, que gostasse de brincar na rua com o sol batendo no meu rosto e cegando minha vista, e de repente eu acordasse e o sol não estivesse no meu rosto, como se vários dias após esse eu não pudesse mais sair para brincar por causa do tempo nublado e cinzento, os pais dos meus amigos não iriam deixá-los brincar com esse tempo, eu estava só.
Não estava sendo relaxada comigo não, eu apenas não estava tentando me reerguer. O mundo parecia que contribuía para a minha baixa estima. Eu queria desaparecer, queria virar cinzas, ninguém enxergava isso, ninguém. Eu estava passando despercebida nos lugares, não me convidavam mais para ir ao cinema, num bar, e nem festas. Estava perdendo o brilho no olhar. Meus amigos e parentes achavam que estavam me ajudando assim, eles achavam que essa tristeza constante iria passar dali a dois anos.
 Lembro-me como se fosse ontem, era um sábado à tarde e eu estava arrumando a casa, porque não havia mais nada para fazer, ninguém tinha me convidado para sair nem nada. Eu estava só, minhas amigas tinham cansado de ouvir todas as minhas lamúrias, choros inconvenientes, piadas pretensiosas e risinhos infantis. Sim, piadas pretensiosas e risinhos infantis, eu fazia piadas idiotas sobre coisas sérias, e ria na hora errada. Naquele dia eu lembro que estava tudo desarrumado, tudo fora do lugar, estava me sentindo sozinha e liguei o rádio, e estava tocando a nossa música preferida, então eu comecei a cantar “If I could, then I would I'll go wherever you will go" se eu pudesse eu o teria feito, mas eu era fraca demais.
Pensei em como nós gastamos tempo brigando, em como poderíamos ter resolvido todos aqueles conflitos com uma  breve conversa civilizada. Em como eu queria continuar com você, nós andávamos juntos pra cima e pra baixo. Éramos inseparáveis, até que o tempo, a distância nos separou. Depois disso eu me exclui do mundo, e fiquei só, com nossas fotos, nossos vídeos, nossos filmes preferidos. Eu me arrependi muito de não ter descido do salto e ter assistido os seus filmes, sim porque você sempre me falava de como eles eram engraçados. Naquele dia eu abri a sua gaveta e peguei todos os seus filmes. Eles eram muito engraçados, me matei de rir, parecia que eu estava feliz, só parecia.
Logo após de assistir os filmes, resolvi olhar nossas fotos, eu chorei. Foi deprimente. Resolvi te recortar. Peguei a tesoura e te recortei de todas as fotos e recoloquei no álbum, depois peguei suas fotos e botei embaixo do colchão, como uma criança escondendo os doces da mãe. Eu estava sendo novamente infantil, quem veria aquele álbum? Só eu, então para que recortar as fotos? Não sei, sinceramente não sei. Cai em prantos sem conseguir me compreender. Não era rancor, nem raiva. Eu esperava mesmo que você fosse feliz, e eu torcia para isso, que você conseguisse achar a felicidade enquanto eu me escondia mais do mundo, procurando uma cópia sua para me acompanhar.
Solidão era a palavra que me resumia. Eu precisava de alguma coisa para me fazer viver, alguma corda que me puxasse, algum motivo para existir, e esse já havia sumido. A única coisa que eu poderia fazer era esperar virar cinzas. Como qualquer outra pessoa, todos iremos morrer e tudo que eu fizer pode não significar nada, mas eu preciso de um motivo. Por isso resolvi a partir daquele sábado ensolarado que eu veria sim o sol por fora da minha janela, e tentaria não ser tão pretensiosa nem infantil. Eu tentaria, porque eu teria um motivo, encontrar a sua cópia. Que eu esperava ser mais fotogênica.  Deseje-me boa sorte.


sábado, 24 de julho de 2010

SUSPIRO de hoje: 30 de fevereiro











30 de fevereiro 
Aquele dia tinha sido muito mais do que eu esperava, fora algo que eu não havia conseguido esquecer. Os primeiros instantes conversando com Ele me fizeram crer que não precisamos conhecer as pessoas há anos, para começar a gostar delas.  Poderia até ter ficado maluca em perceber isso em minutos, mas o que eu poderia fazer?
Não conseguimos nos conhecer mais por causa do aniversário em família, agora, eu não tinha como reclamar do aniversário senão fosse por ele eu não o teria conhecido.  O aniversário não tinha sido muito ruim, para a minha sorte meu primo mais novo não havia ido, só a mãe dele que tinha atrapalhado tudo entre eu e Ele. Não ficaram falando tanto em futebol, como eu imaginava, falaram coisas piores como de planos futuros e casamentos.
Eu não gostava muito de falar sobre casamentos, por que na maioria das vezes não existia gente feita para casar como nos filmes, e eu com certeza não era uma dessas, porém Ele parecia ser o homem perfeito para casar. Com esses pensamentos estranhos percorrendo minha cabeça, decidi ir até o parque, outro lugar onde eu conseguia pôr as minhas ideias em ordem.  Arrumei-me para ir ao meu lugar favorito na cidade, fui até a cozinha e peguei farelos de pão coloquei-os em uma sacola e quase bati a porta. Tinha se esquecido das chaves, onde é que eu estava com a cabeça? Eu sei, meus pensamentos estavam na praia.  Peguei o chaveiro, bati a porta. Descendo pelo elevador comecei a contar os andares, estava impaciente 5...4...3...3...Térreo. Até que enfim.
Chegando ao parque percebi que ainda era muito cedo e não havia quase ninguém além do guarda que cuidava do parque, cachorros que latiam ao ver que estava amanhecendo e pessoas correndo na pista. Eu estava de tênis e abrigo, então dei uma breve corridinha até o lago e comecei a dar comida aos patos, me escorei na cerca que separava eu dos patos, então percebi uma placa de metal tocando minha pele e li: PROIBIDO ALIMENTAR OS PATOS! Que legal, eu já sabia disso, mas me diga uma coisa, se as pessoas que vem ao parque não podem alimentar os patos, quem os alimenta? Eu nunca vi ninguém fazendo isso além de visitantes.
Irritada joguei todas as migalhas no lago e continuei correndo, quando vi meu chaveiro escapando do meu bolso parei de supetão e esbarrei em um homem, que acho que estava correndo também. Levei um susto quando percebi quem era o tal homem, era Ele. Se não me apoiasse na árvore do meu lado, tinha certeza que cairia dura ali mesmo. Perguntei se Ele se lembrava de mim, Ele fez um gesto com a cabeça, isso queria dizer um sim. Fiquei aliviada, não era só eu que não havia esquecido dos poucos minutos que passamos juntos.
Como eu não me aguentava em pé dei a ideia de sentarmos em um banco, ele concordou, nós conversamos por horas, continuamos falando sobre nossas vidas e ele parecia ser bem maduro. Convidou-me para tomar café da manhã, e eu logo aceitei, não iria perder essa chance. Chegamos até seu apartamento, que tinha uma bela vista. Ele me serviu uma caneca de um líquido meio amarronzado e fumegante.  Esqueci-me de perguntar o que Ele fazia da vida e qual era o nome dEle, fiquei perdida quando provei do seu capuccino...
Mas isso não era mais importante, agora eu sabia onde Ele morava.
Eu já estava acordada quando abri os olhos, minhas lembranças é que estavam fazendo minhas pálpebras pesarem tanto a ponto de eu não conseguir abri-las. Sem nada para fazer naquela manhã fria de sábado resolvi levantar e ligar a TV para me distrair. Como se adiantasse, fiquei trocando de canal sem ver programa algum, nada conseguia me afastar das lembranças daquele dia no aniversário em família, na praia...E meu mais breve sonho, no parque...


quinta-feira, 22 de julho de 2010

SUSPIRO de hoje: 19 de fevereiro

19 de fevereiro

Eram onze horas quando acordei pela manhã, lá fora chovia. Dava para escutar os pingos de chuva caindo sobre o telhado, depois descendo pelas telhas e caindo dentro da bacia no meu quarto. Isso não era bem o que eu queria ouvir. O tempo estava feio mesmo, e eu não estava nada bem, tinha dormido demais e se não me apressasse perderia o horário do ônibus, e lá se ia férias de verão.
Levantei apressada com fome e dor nas pernas. Abri a porta do guarda-roupa à procura de alguma roupa descente para vestir, me senti como se naquele dia nada me cairia bem.  Resolvi colocar uma blusa e uma calça jeans, um tênis. Tomei banho. Como o aniversário não era formal, iria com aquela roupa mesmo.  Com fome, abri a geladeira e peguei um iogurte de frutas vermelhas.  Atrasada corri até o quarto para pegar minha carteira, bolsa  e brincos. Passando de novo pelo banheiro me olho no espelho: Não dá para sair com esse cabelo. Arrumei o cabelo, peguei minhas coisas e bati a porta.
Já dentro do ônibus a paisagem mudava de repente um sol, um mar, um dia claro apareceu em minha janela, e eu percebi que chegara à praia. Ainda bem que fazia um belo dia. Mas nada me tirava da cabeça o que me esperava na casa de veraneio, por que tinha que ser lá? Para mim não fazia muita diferença, ia ser um dia chato e eu iria ter que escutar as piadinhas sem graça do meu primo mais novo.
A praia estava deserta naquele dia, e eu que ainda não havia despertado de meus sonhos andava por ela descalça. Meus pés com as unhas muito bem pintadas de um vermelho sangue andavam pela beira da praia com rapidez como se quisessem me direcionar para certo alguém.  Eles me levaram até o alguém. Ele, que estava sentado nas dunas observando a imensidão do mar e procurando um pontinho além de mar, céu e terra, então seus olhos me encontraram. E os meus pés sem me dizer para onde estava indo, correram sozinhos até Ele.
Foi estranho, porque quando cheguei até Ele fiquei sem palavras. Então Ele com a câmera na mão, mexia a cabeça de um lado para o outro como para enxergar algo que eu não sabia o que era irritado e lindo Ele disse que eu estava na sua frente. Eu boba não tinha percebido e sai rápido para não irritá-lo mais. Como não tinha para onde ir antes das três horas me sentei ao seu lado, por enquanto que Ele tirava as fotos, resolvi pegar meu romance para ler alguma coisa.
Quando Ele parou de capturar a imensidão em poucos segundos se virou para mim e perguntou o que eu estava fazendo ali, acordando das minhas leituras respondi que eu estava na praia para fazer hora, porque ás três tinha um aniversário em família. Que seria uma chatice sendo que não haveria assunto além de futebol, casamentos, e namoros que eram quase noivados, mas é claro que essa parte eu não mencionei.  Então perguntei o mesmo, Ele disse que estava naquela praia para não fazer nada, só descansar.
Conversamos como dois amigos de infância que haviam se encontrado após anos, era como se conhecesse Ele há muito tempo, falamos de namoros desastrosos, pessoas sínicas, amores, amigos, brincadeiras de infância. Ele mexia no cabelo como se tivesse muito a vontade, como eu estava.  Falamos também de como odiávamos famílias conservadoras, então Ele falou que por isso tinha saído de casa, e que estava vivendo bem melhor sozinho, mesmo que sentisse falta da macarronada da sua mãe e do seu quarto.  Isso foi bem bizarro, porque qualquer homem que eu já havia conversado não admitiria que sentisse falta de casa.
Nós estávamos muito bem, até que meu celular tocou, era a minha tia me chamando, já eram quatro e meia e nem sombra da minha pessoa. Todos estavam preocupados, foi aí que eu saí correndo, expliquei tudo a Ele e fui embora. Foi como se aquele dia não tivesse existido, foi tão bom que não parecia verdade, mas um dos indícios que ele existia é que ainda tinha um aniversário em família me esperando a dois quilômetros dali.

sábado, 17 de julho de 2010

SUSPIRO de hoje: Os Espinhos e Eu.




Os Espinhos e Eu

Eu estava desavisada e desprotegida, mas me deixei levar pela brisa leve e perfumada que vinha com você. Você deixou que o vento fizesse que pedrinhas míseras entrassem nos meus olhos de café, para não me fazer enxergar que do vento viria uma tempestade.

E foi assim que se iniciou a tormenta em mim, eu não podia vê-lo, mas conseguia senti-lo, era o amor. Eu sabia que você me faria feliz, mas não sabia que demoraria tanto... E no inicio tudo o que eu sentia era o perfume das rosas que você me trazia pela manhã, e o gosto dos bombons que me dava de presente, você queria me agradar.
Depois de algum tempo as flores e os bombons foram desaparecendo, e aos poucos era outono, podaram as rosas e nasciam espinhos, espinhos que me  arranhavam diariamente. A convivência estava nos desgastando. Fui apresentada aos teus defeitos e manias, que me faziam enxergar e ver que você não era mais meu príncipe encantado. 
Os meses foram passando e eu não sabia se aguentaria mais um dia em sua companhia, suas qualidades estavam sendo ofuscadas pelos seus defeitos, eu não tinha consciência de com quem eu estava lidando. As coisas haviam mudado, e meus sentimentos por você mudaram junto, mas o amor não. Não sei como poderíamos chegar a um consenso, aquilo estava fazendo mal a nós dois.
Sinto que passei muitos dos meus melhores momentos com você, despercebidos detalhes que agora aqui, percebo.  Talvez eu tenha passado mais momentos até, mas essas lembranças foram esquecidas.  Eu sofro por antecipação.  Sei que nada é perfeito.  Por isso fui embora, não estava mais dando certo, e quem mais poderia sair machucado?
Mas depois senti a sua falta, e com ela vieram noites mal dormidas, choros e olheiras, eu estava me acabando em lágrimas. Então lá estava eu de novo, de volta a sua porta, com malas e meu coração. É muito fácil amar você, difícil é “desamar-te”, sei lá se isso é possível, mas é melhor não tentar, alguém pode sair machucado...

quinta-feira, 8 de julho de 2010

SUSPIRO de hoje: Nas nuvens






Nas nuvens

Procuro-te em outros olhares, outros rostos, outras vozes, mas te perdi.  Perdi porque nunca o tive, eu sei.  Foi bom enquanto não durou. Você estava vivo em meus pensamentos, em meus sonhos, na minha mente, mas não na vida real, sonhava com você acordada, de olhos abertos. De noite deixava a porta do quarto aberta com a esperança de você ser real.
 Você era onisciente na minha cabeça, e eu não podia controlar. Era engraçado como você viajava e percorria cada pedaço mais obscuro de mim, e eu mal sabia quem você era, era só um sei lá quem, que entrou em mim sabe lá como, e saiu sem eu perceber, mas quando saiu deixou um buraco, que sei, demoraria a fechar, como uma ferida que não curaria.
Eu me fechei para o “outro mundo” e criei um só para você e eu, o seu holograma fazia tudo o que eu mandava, às vezes falhava, mas eu gostava das suas falhas. Eu mimava você, era bom, você era meu bonequinho de estimação, eu fazia você do que quisesse, no nosso mundo.
 E ao poucos fui percebendo que eu precisava disso, precisava sempre de uma pessoa a quem esperar sonhar, planejar e olhar. Eu queria ficar contando os dias para você chegar, saber a que horas te encontrar e onde, mas era impossível, você só era real no nosso mundo. Os meses foram passando e eu nunca mais o vi, o que mais receava é saber que poderia ter passado por você na rua e não ter te reconhecido.  Não ver você me deixava cega.
Cega para o outro mundo, porque para o nosso mundo eu estava sempre enxergando, prestava atenção em cada detalhe do seu rosto e de como você se movia entre as nuvens, o nosso mundo.  Lá quando o sol brilhava, o seu rosto ficava ainda mais angelical e de tudo eu só via você, você era o meu foco. 
Quando me forçavam a acordar dos sonhos me sentia deslocada, de manhã eu não servia pra nada, você estava em mim e eu só pensava em dormir de novo para estar nas nuvens, de tarde eu contava as horas, e de noite, dormia mais cedo. Achavam que eu tinha problemas, sei lá.
Mais semanas se passaram, eu não percebia, dia e horas caiam sobre mim sem eu me dar conta. Eu estava gastando todo o meu tempo no nosso mundo.  O dia em que acordei para o outro mundo tudo havia mudado, era outono e as folhas caiam do outro lado da minha janela, as cores haviam mudado também, então eu percebi: gastei o meu tempo com alguém que não merecia. Levantei da cama e abri a janela, todos estavam fazendo a mesma coisa: Acordando.
Não aguentei o peso e tombei pra trás, caindo sobre a cama que reclamou. Voltando a dormir sonhei com você, o sonho era perfeito, era primavera e as flores destacavam seus olhos castanhos brilhantes, eu corri até você com a esperança de conversarmos, mas você estava estranho, você não me respondeu ficou parado. Por que você me ignorava? Por que fazia como se não me conhecesse? O meu medo de não te reconhecer  tinha desaparecido, percebi que eu te reconheceria a qualquer distância, eu sentiria a sua presença.
No entanto você não me deu importância, me rejeitou todo esse tempo que eu tinha passado construindo o nosso mundo, nas nuvens.  Resolvi me desfazer do nosso mundo, acabei com ele e agora eu vivia só em um mundo. Eu mudei, para melhor, me desprendi de você, não sei se consegui arrancar você de mim, mas isso não fazia mais diferença. Sua indiferença tornava isso insignificante.

terça-feira, 29 de junho de 2010

SUSPIRO de hoje: Fútil



Fútil
         Talvez essa instabilidade emocional, essa mudança de humor te afete um pouco, ninguém é perfeito, acostume-se.  Eu nem sei achar a perfeição, convivo com pessoas imperfeitas como você e o resto do mundo, mas eu a procuro, não me pergunte por que, também não sei isso. Agora vivo em plena interrogação e tudo que eu consigo escutar são vozes me dizendo o que eu devo ou não fazer. Eu me importo com coisas fúteis e vivo de paixões pequenas e sem importância. Morro de amores hoje, e amanhã nem sei seu nome. Assim sou eu, acostume-se.


De tudo isso eu não peço que confie em mim, não mereço a confiança de ninguém, não estou me subestimando, só encontrando o meu lugar, e se você acha que deve confiar por mim tudo bem, depois não reclame.  Eu sei bem quem sou. Gostaria que você pudesse entrar em mim, como um caleidoscópio, e me enxergar de todas as maneiras que posso ser, para nunca se desapontar. Mas se é assim que tem que ser...
É assim, eu sou fútil e feliz. Quando digo que tenho pequenas paixões de momento, são essas que me alegram mais.  Amor, dizem que só tem um, não sei disso também, tudo o que achei que era amor desapareceu, e só ficaram lembranças ruins Já dessas paixões de momento, essas me deixaram feliz e só lembro de ter vivido aventuras boas.
Porque eu me importo com coisas pequenas, e não faço como os outros que ficam tentando torná-las grandes. Deixo-as como elas são, acostume-se.  Isso talvez seja prejudicial para a minha reputação, mas não para a minha sanidade mental, essa sim está ótima. E quando eu choro assistindo um filme ou novela, não é porque sou boba ou louca, sei que são filmes e novelas, mas mostram o que sinto, e tudo parece mais fácil na televisão.
Não tenho muito para contar, e nada de aventuras perigosas, só aventuras seguras e rotineiras como eu.  Eu mudo muito de idéia, mas não de opinião. Gosto de mudar tudo em mim, quando faço isso parece que o mundo agora gira ao contrário e eu mudei de verdade.  Mas eu não consigo me esquecer de nada, queria ser como um computador, que tem um limite de memória.
A verdade é que eu gosto disso, das imperfeições, das desilusões, das pequenas aventuras, da rotina... Agora eu gostaria sim de mudar muitas coisas. Mas eu sei que depois, se fosse para fazer tudo de novo, eu faria mais ou menos igual...


segunda-feira, 21 de junho de 2010

SUSPIRO de hoje: O Passageiro e o Casalzinho feliz







 O Passageiro e o Casalzinho feliz

Acordei com o sol me cegando e invadindo meu quarto, a noite anterior não estava gravada em minha memória, eu tinha bebido demais. Tentei me levantar, mas a minha cabeça parecia pesar mais do que meu corpo, me arrastei pelo chão do quarto e fui até a cozinha. Apoiei-me na mesa e levantei.
Era muito estranho que eu não tivesse feito nada de constrangedor quando estava bêbada. Tudo o que eu sabia da noite passada era que eu fui para um bar para esquecer você, nem mais, nem menos.  Não que eu sentisse saudade de você, era mais uma necessidade de fazer você desaparecer da minha mente. Fiz mal, não adiantou nada, fiquei com mais dor de cabeça, era você pesando em mim. Talvez eu culpasse você por tudo o que aconteceu de ruim para mim, aliás, para nós. É que você parecia tão indiferente com os meus sentimentos sua forma de amar me provocava, porém eu sei que você me amava não do jeito que eu te amava mais de um jeito bom, reconfortante, passageiro.  Bem dito, passageiro. É isso que você deveria ser no meu coração mutante, mas não você resolveu se acostar por lá e sei lá quando vou conseguir te expulsar.  
Quando tudo acabou entre nós, o mundo continuou girando e a natureza fazendo seu curso. Eu continuei respirando, e minha vida continuou a mesma de sempre. E você sempre ocupando um espaço ainda maior em mim.  Tentei de tudo até ontem, tentei sair com os meus amigos, conhecer pessoas novas, ampliar meus horizontes, e tudo o que consegui fazer foi me embebedar, passar vergonha e dar foras. E no meu horizonte não havia nada além da sua imagem. Você estava me consumindo. Percorria por meus pensamentos e sonhos sem passagem.
Tomei um copo d’agua e fui procurar um lugar pra comer, já eram quatros horas da tarde. Passei por uma cafeteria dessas que eu adoro, e resolvi entrar. Acomodei-me na mesa em frente ao balcão, ao meu lado uma moça bonita e sorridente ajeitava seus cabelos pretos e encaracolados olhando pelo vidro. Logo, chega um homem bonito, bem apessoado e sério, e senta ao lado dela. Eles começaram a brincar com as mãos e isso me deixou com inveja, eles estavam juntos e felizes. E eu sozinha e infeliz.
 Fiquei impaciente com a demora da garçonete, então resolvi ir até o balcão, procurei algo bem doce e de chocolate para me deixar melhor, avistei o meu alvo, um cupcake coberto de chocolate e granulado escrito “I Love you” lembrei-me que aquele doce era o seu preferido, me deixou com náuseas, por fim pedi um brigadeiro e um chocolate quente para a garçonete que me olhou estranho quando fiz cara de nojo para o lindo cupcake. Era típico de mim, encarar as pessoas, mas eu não estava em condições de encarar ninguém. Todos na cafeteria pareciam estar tranquilos e felizes. Eu não estava com nojo do cupcake, mas de mim, uma pessoa tão mesquinha... Como tive coragem de ter inveja de pessoas felizes?
Comi o brigadeiro com vontade, ele me fazia esquecer a minha infelicidade, ou apenas conseguir lidar com ela sem chorar. Depois de comer o brigadeiro, tomei rapidamente o chocolate morno. Peguei minha bolsa e ia até o caixa pagar, mas o casal feliz chegou primeiro, pagou e passou por mim. O homem olhou para mim e disse:
_ Ei, você não era a bêbada do barzinho ontem?_perguntou confuso
_Sou, eu acho. Por quê?
_Você está com bigode de chocolate. _ Então o casalzinho feliz saiu rindo, de mim.