Esconderijo

SEJA VOCÊ

Seja você, como eu jamais consegui ser eu. Viva a sua vida, como se a minha não estivesse ao seu lado, e cubra-se porque a tempestade está por vir. Folhas serão arrancadas das árvores com tamanha agressividade, noites se transformarão em dia em segundos, e o mundo estará de cabeça para baixo. Ainda assim, continue lendo, pois mesmo que o mundo esteja com a cabeça pra baixo, você ainda está com a sua no lugar. Ou melhor, o seu pensamento está. Espero que suas ideias não caiam com tanta turbulência.

Boa leitura, Amanda Oliveira.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

SUSPIRO de hoje: Entre a cidade e o interior, meu primeiro amor


Entre a cidade e o interior, meu primeiro amor
Chovia uma chuva pesada e que se comparava a mim depois de um cansativo dia de trabalho. De forma que meu guarda chuva branco com bolinhas azuis não adiantaria grande coisa. Ainda me lembro que quando era criança, nos dias de chuva como essa, eu saia correndo de casa, percorria a fazenda para chegar até o balanço. Minha mãe lá da cozinha gritava sobre os perigos da chuva e árvores e todas essas coisas, eu ria como se fosse invencível, mas quando dava aquele clarão no céu, eu saia correndo e logo antes que  chegasse a tempo, vinha aquele estrondo, e eu corria para baixo da mesa da cozinha, e sempre aproveitava para beliscar alguma coisa. Pensamento estranho esse meu, e sim me lembrou daquele menino que me apaixonei, quando ainda tinha quinze anos, e andava de balanço.
Lembro-me de como ele era bonito, tinha uma beleza singela, serena, poderia até dizer que possuía uma beleza educada, que não agredia ao admirar, era alto, mas não magro e o desajeitado mais ajeitado que eu conhecera. Ele sabia escutar, e olhava nos olhos de quem quer que fosse do delegado da cidade até o homem que trazia o leite. Ele era cavalheiro, mas às vezes conseguia ser um tanto devasso, somente nas horas certas. Ele contava estórias lindas, sobre princesas e príncipes, mas eu sempre preferia as histórias que tinham um cavalheiro que a roubava do príncipe e saía a galope, ele sabia descrever perfeitamente o vento entre os fios de cabelo castanho claro da bela dama indefesa. Então quando eu andava de balanço, me criava no conto de fadas, e eu sentia o vento entre meus cabelos.
Também me lembro dos carinhos que trocamos e de como ele era sensível, da forma que ele tratava as pessoas, sem pensar em receber nada em troca, como se isso fosse involuntário. Eu o amava pela forma que ele se vestia, pensava, amava, andava, chorava e até mesmo pela forma que ele ficava emburrado, sendo que o vi assim poucas vezes. Ele era o tipo de pessoa que preferia sofrer sozinha, pois nós combinávamos nisso também, quando chorava eu, chorava longe de todo mundo, de preferência em frente ao lago, assim me parecia que tinha tanta água no mundo, que ninguém iria se importar com as águas salgadas que estavam escorrendo pelos meus olhos, e muito menos com o tsunami que estava se formando dentro de mim.
E por fim, lembro do dia que sua família se mudou para a cidade grande, chorei vários dias seguidos pensando que nunca mais o veria, e da saudade que eu sentiria, e que não, era uma saudade crônica, não iria passar, porque nunca mais o teria como antes. Ele era o meu primeiro amor. E eu sentiria saudades dele para sempre, porque o primeiro amor a gente nunca esquece. Sei que depois dele vieram outros, que não eram a perfeição em carne humana como ele, tinham defeitos visíveis a olho nu. Tentei ligar para ele depois que ele se foi, mas nunca consegui falar com ele ao telefone, eu queria abraçá-lo e dizer que o nosso amor era para sempre.
Em meio dessa chuva pesada, corri até um bar, pedi água ardente. O garçom trouxe e satisfeito com o meu decote o observou atentamente até  perguntar se eu desejava algo mais, penso que ele gostaria que as funções se invertessem, mas não foquei no pensamento. O que me chamou atenção foi o homem sentado duas mesas á minha frente, era ele, era o meu primeiro amor.  Me levantei e fui até ele, dei dois tapinhas de leve no seu ombro como quando éramos adolescentes, ele se virou, me observou de uma forma parecida com o garçom e por fim perguntou quem eu era. Com um tom dado. Trocamos poucas palavras, eu paguei a minha conta e fui embora.Eu tivera uma miragem, quisesse eu que ele fosse de verdade, Dobrei a esquina. Fiz sinal para um táxi e entrei, não havia percebido que tinha parado de chover, uma leve brisa estava presente no ar, encostei minha cabeça no banco, e me introduzi na paisagem de sempre   o cavalo, eu princesa e  ele,o cavalheiro ao meu lado.


2 comentários:

Anônimo disse...

Este é o meu preferido! Os teus textos tem uma grande poesia literária...não se perca delas!

pri disse...

Muito lindo Amanda! Nunca me canso de ler! Parabéns *-*