Esconderijo

SEJA VOCÊ

Seja você, como eu jamais consegui ser eu. Viva a sua vida, como se a minha não estivesse ao seu lado, e cubra-se porque a tempestade está por vir. Folhas serão arrancadas das árvores com tamanha agressividade, noites se transformarão em dia em segundos, e o mundo estará de cabeça para baixo. Ainda assim, continue lendo, pois mesmo que o mundo esteja com a cabeça pra baixo, você ainda está com a sua no lugar. Ou melhor, o seu pensamento está. Espero que suas ideias não caiam com tanta turbulência.

Boa leitura, Amanda Oliveira.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

SUSPIRO de hoje: Consciência



 Consciência
Ela sabia o que tinha feito de errado, modos, jeitos, palavras. Mas o orgulho não a deixava voltar atrás.
Num dia qualquer, as sete da manhã o telefone toca:
_Alô? _ disse a moça ainda sonolenta
_É a senhorita Marília? _ pergunta uma voz passiva do outro lado da linha.
_Sim, sou eu mesma, com quem falo? _ como Marília morava sozinha ficou curiosa para saber o que o tal homem queria com ela a essa hora da manhã. Seria notícias ruins, ou boas, alguem teria morrido? Mas, ela não conhecia nenhuma grávida.
_Aqui é da funerária Santo Deus [...] assustada ela interrompe o homem
_Santo Deus, quem  morrreu?
_Acalme senhorita, nós só queremos lembrar, que se algum parente seu morrer, lembre-se da nossa funerária, aqui  temos ótimos preços. Podemos parce..
_Ah, faça-me o favor, essa hora da manhã? Funerária._ diz a moça irritada
_Parcelamos em até.._continua o vendedor
Tu Tu Tu.._ Ela desliga o telefone, resolve tentar dormir novamente.  Vira pra cá, Vira pra lá, já se passaram 5 minutos. Pensa:
_Por  que não podemos  parcela r a morte?_ reflete_ Por que não podemos fazer igual a funerária.
Então surge do nada a voz do vendedor e responde sua pergunta:
_Nós parcelamos a morte. Parcelamos todos os dias,  morremos aos poucos, a cada dia que passa estamos morrrendo, morremos quando brigamos, morremos quando sentimos raiva, morremos quando sentimos pena, morremos quando temos medos, morremos quando sorrimos,  morrremos quando choramos,  morremos a cada minuto que piscamos. A  única diferença é que dependendo da nossa parcela de morte, podemos ter descontos ou juros.
Depois de alguns minutos a moça disca um  número:
_ Oi, pensei que você iria demorar para ligar. _ Disse  a voz do vendedor do outro lado da linha.
_ Desculpe, foi engano.
Disca outro número:
_Não fale nada. _disse ela. _ Eu sei que errei por ser tão ansiosa, tão  orgulhosa tão inconsequente. Me desculpa?
_..._ Uma respiração vaga pela linha do telefone
_ Oi, pensei que você iria demorar par ligar. _ disse o homem_  Sim desculpo.
                               

Amanda Oliveira

quinta-feira, 1 de abril de 2010

SUSPIRO de hoje: Sem Querer

Sem Querer
Depois de uma discussão matinal, a mulher senta á mesa e sussurra  em forma de um pigarro “Acabou, eu não aguento mais”, com isso o marido escuta e retruca: 
_Acabou  o quê, em mulher? 
_Acabou tudo, tudo tudo tudo_ E continua a repetir a palavra gradativamente
_Como assim? _ Diz o marido aflito_ O que você está querendo dizer?
_Que eu quero me separar! _ O homem escuta, apóia-se na mesa, e senta na cadeira apavorado
_Não, isso foi só uma briga, se acalme mulher, se acalme._ Começa a chorar como uma criança e acabou de quebrar o brinquedo sem querer.
_Mas é sério, muito sério. Acabou o amor entre nós. 
_Eu não deixei de amar você.
_Você deixou sim, mas ainda não sabe, você deixou de me amar faz muito tempo, nós deixamos de nos amar quando brigávamos e depois de cinco minutos ninguém iria pedir desculpas, deixamos de nos amar quando dormíamos brigados, deixamos de nos amar quando não tínhamos assunto nas refeições você lia o jornal, e eu assistia tv, deixamos de nos amar quando esquecemos do juramento do casamento, na alegria, na tristeza..esquecemos que nós poderíamos compartilhar não só tristezas, mas alegrias também, deixamos de nos amar quando na manhã seguinte eu não corria para o telefone para falar com as minhas amigas e contar como  a noite passada foi boa, e você, quando não saia mais cedo para o trabalho para ir  comemorar com os colegas do escritório, deixamos de nos amar quando não entendíamos que cada um tem a suas amizades, e que podemos conviver bem com as amizades dos dois, deixamos de nos amar quando resolvemos não ter filhos para não termos complicações e estresse, deixamos de nos amar quando esquecemos que um filho é um eterno pedaço de nós dois, deixamos de nos amar sem querer, sem perceber.
_ No.._ O marido tenta dizer uma palavra, mas não consegue, desaba a chorar, a mulher coloca as mãos na face e diz:
_Não pense que foi tudo em vão, nós nos amamos por muito tempo, mas o amor desapareceu, evaporou. _ Ela começa a chorar_ Eu queria ter um filho com você, eu queria uma união eterna, eu queria ter medo de ser mãe igual todas minhas amigas, ter medo que meu filho teja algum problema, ou que ele nasça com algum defeito, eu queria trocar fraldas, dar banho, ver ele aprender a escrever. EU QUERIA ENSINÁ-LO A VIVER!
_ Você está colocando toda SUA culpa nas minhas costas! _ Ele resmunga
_Não, você é que percebeu que você também tem a sua cota nessa separação, porque  todos os dias que eu queria te contar uma novidade,  você dizia que não queria saber de novela, e as vezes nem era sobre a novela.
_ Se é pra lavar roupa suja, então vamos lavar. Lembra da vez que eu tive que fazer uma cirurgia pequena, e você não quis ir? Você falou que era o fim da novela.
_ Sim, não era uma cirurgia importante mesmo. _ Contesta_ Você não esqueceu disso até hoje, né?
_Não, não era uma cirurgia grave, mas eu queria que você estivesse ao meu lado.
_Vamos acabar com isso? _ Diz a mulher
_ Você quer terminar com o casamento? _ As  lágrimas voltam e começam a escorrer novamente, ele soluça e diz_ Não podemos dar um tempo?  
_Não. _ Uma correnteza sai dos olhos da mulher
_ Eu tenho o meu antigo apartamento, posso me mudar agora mesmo, esse aqui é seu._ O marido caminha em direção a mulher então entrega as chaves e , abraça-a_ Você disse bem, deixamos de nos amar sem querer..._ Ele sai da cozinha, vai para o quatro, chorando, arruma as malas. De presente deixa a sua gravata favorita, a do seu primeiro encontro. A mulher ainda sentada á mesa:
_Deixei um presente para você _ Ele sorri, para não chorar
_ É? _ Ela corre para olhar  o presente, acha a gravata e volta para cozinha, procura o marido e diz:
_ Sem querer... _ A porta bate.
                                                                                                            Amanda Oliveira