Esconderijo

SEJA VOCÊ

Seja você, como eu jamais consegui ser eu. Viva a sua vida, como se a minha não estivesse ao seu lado, e cubra-se porque a tempestade está por vir. Folhas serão arrancadas das árvores com tamanha agressividade, noites se transformarão em dia em segundos, e o mundo estará de cabeça para baixo. Ainda assim, continue lendo, pois mesmo que o mundo esteja com a cabeça pra baixo, você ainda está com a sua no lugar. Ou melhor, o seu pensamento está. Espero que suas ideias não caiam com tanta turbulência.

Boa leitura, Amanda Oliveira.

sábado, 24 de julho de 2010

SUSPIRO de hoje: 30 de fevereiro











30 de fevereiro 
Aquele dia tinha sido muito mais do que eu esperava, fora algo que eu não havia conseguido esquecer. Os primeiros instantes conversando com Ele me fizeram crer que não precisamos conhecer as pessoas há anos, para começar a gostar delas.  Poderia até ter ficado maluca em perceber isso em minutos, mas o que eu poderia fazer?
Não conseguimos nos conhecer mais por causa do aniversário em família, agora, eu não tinha como reclamar do aniversário senão fosse por ele eu não o teria conhecido.  O aniversário não tinha sido muito ruim, para a minha sorte meu primo mais novo não havia ido, só a mãe dele que tinha atrapalhado tudo entre eu e Ele. Não ficaram falando tanto em futebol, como eu imaginava, falaram coisas piores como de planos futuros e casamentos.
Eu não gostava muito de falar sobre casamentos, por que na maioria das vezes não existia gente feita para casar como nos filmes, e eu com certeza não era uma dessas, porém Ele parecia ser o homem perfeito para casar. Com esses pensamentos estranhos percorrendo minha cabeça, decidi ir até o parque, outro lugar onde eu conseguia pôr as minhas ideias em ordem.  Arrumei-me para ir ao meu lugar favorito na cidade, fui até a cozinha e peguei farelos de pão coloquei-os em uma sacola e quase bati a porta. Tinha se esquecido das chaves, onde é que eu estava com a cabeça? Eu sei, meus pensamentos estavam na praia.  Peguei o chaveiro, bati a porta. Descendo pelo elevador comecei a contar os andares, estava impaciente 5...4...3...3...Térreo. Até que enfim.
Chegando ao parque percebi que ainda era muito cedo e não havia quase ninguém além do guarda que cuidava do parque, cachorros que latiam ao ver que estava amanhecendo e pessoas correndo na pista. Eu estava de tênis e abrigo, então dei uma breve corridinha até o lago e comecei a dar comida aos patos, me escorei na cerca que separava eu dos patos, então percebi uma placa de metal tocando minha pele e li: PROIBIDO ALIMENTAR OS PATOS! Que legal, eu já sabia disso, mas me diga uma coisa, se as pessoas que vem ao parque não podem alimentar os patos, quem os alimenta? Eu nunca vi ninguém fazendo isso além de visitantes.
Irritada joguei todas as migalhas no lago e continuei correndo, quando vi meu chaveiro escapando do meu bolso parei de supetão e esbarrei em um homem, que acho que estava correndo também. Levei um susto quando percebi quem era o tal homem, era Ele. Se não me apoiasse na árvore do meu lado, tinha certeza que cairia dura ali mesmo. Perguntei se Ele se lembrava de mim, Ele fez um gesto com a cabeça, isso queria dizer um sim. Fiquei aliviada, não era só eu que não havia esquecido dos poucos minutos que passamos juntos.
Como eu não me aguentava em pé dei a ideia de sentarmos em um banco, ele concordou, nós conversamos por horas, continuamos falando sobre nossas vidas e ele parecia ser bem maduro. Convidou-me para tomar café da manhã, e eu logo aceitei, não iria perder essa chance. Chegamos até seu apartamento, que tinha uma bela vista. Ele me serviu uma caneca de um líquido meio amarronzado e fumegante.  Esqueci-me de perguntar o que Ele fazia da vida e qual era o nome dEle, fiquei perdida quando provei do seu capuccino...
Mas isso não era mais importante, agora eu sabia onde Ele morava.
Eu já estava acordada quando abri os olhos, minhas lembranças é que estavam fazendo minhas pálpebras pesarem tanto a ponto de eu não conseguir abri-las. Sem nada para fazer naquela manhã fria de sábado resolvi levantar e ligar a TV para me distrair. Como se adiantasse, fiquei trocando de canal sem ver programa algum, nada conseguia me afastar das lembranças daquele dia no aniversário em família, na praia...E meu mais breve sonho, no parque...


quinta-feira, 22 de julho de 2010

SUSPIRO de hoje: 19 de fevereiro

19 de fevereiro

Eram onze horas quando acordei pela manhã, lá fora chovia. Dava para escutar os pingos de chuva caindo sobre o telhado, depois descendo pelas telhas e caindo dentro da bacia no meu quarto. Isso não era bem o que eu queria ouvir. O tempo estava feio mesmo, e eu não estava nada bem, tinha dormido demais e se não me apressasse perderia o horário do ônibus, e lá se ia férias de verão.
Levantei apressada com fome e dor nas pernas. Abri a porta do guarda-roupa à procura de alguma roupa descente para vestir, me senti como se naquele dia nada me cairia bem.  Resolvi colocar uma blusa e uma calça jeans, um tênis. Tomei banho. Como o aniversário não era formal, iria com aquela roupa mesmo.  Com fome, abri a geladeira e peguei um iogurte de frutas vermelhas.  Atrasada corri até o quarto para pegar minha carteira, bolsa  e brincos. Passando de novo pelo banheiro me olho no espelho: Não dá para sair com esse cabelo. Arrumei o cabelo, peguei minhas coisas e bati a porta.
Já dentro do ônibus a paisagem mudava de repente um sol, um mar, um dia claro apareceu em minha janela, e eu percebi que chegara à praia. Ainda bem que fazia um belo dia. Mas nada me tirava da cabeça o que me esperava na casa de veraneio, por que tinha que ser lá? Para mim não fazia muita diferença, ia ser um dia chato e eu iria ter que escutar as piadinhas sem graça do meu primo mais novo.
A praia estava deserta naquele dia, e eu que ainda não havia despertado de meus sonhos andava por ela descalça. Meus pés com as unhas muito bem pintadas de um vermelho sangue andavam pela beira da praia com rapidez como se quisessem me direcionar para certo alguém.  Eles me levaram até o alguém. Ele, que estava sentado nas dunas observando a imensidão do mar e procurando um pontinho além de mar, céu e terra, então seus olhos me encontraram. E os meus pés sem me dizer para onde estava indo, correram sozinhos até Ele.
Foi estranho, porque quando cheguei até Ele fiquei sem palavras. Então Ele com a câmera na mão, mexia a cabeça de um lado para o outro como para enxergar algo que eu não sabia o que era irritado e lindo Ele disse que eu estava na sua frente. Eu boba não tinha percebido e sai rápido para não irritá-lo mais. Como não tinha para onde ir antes das três horas me sentei ao seu lado, por enquanto que Ele tirava as fotos, resolvi pegar meu romance para ler alguma coisa.
Quando Ele parou de capturar a imensidão em poucos segundos se virou para mim e perguntou o que eu estava fazendo ali, acordando das minhas leituras respondi que eu estava na praia para fazer hora, porque ás três tinha um aniversário em família. Que seria uma chatice sendo que não haveria assunto além de futebol, casamentos, e namoros que eram quase noivados, mas é claro que essa parte eu não mencionei.  Então perguntei o mesmo, Ele disse que estava naquela praia para não fazer nada, só descansar.
Conversamos como dois amigos de infância que haviam se encontrado após anos, era como se conhecesse Ele há muito tempo, falamos de namoros desastrosos, pessoas sínicas, amores, amigos, brincadeiras de infância. Ele mexia no cabelo como se tivesse muito a vontade, como eu estava.  Falamos também de como odiávamos famílias conservadoras, então Ele falou que por isso tinha saído de casa, e que estava vivendo bem melhor sozinho, mesmo que sentisse falta da macarronada da sua mãe e do seu quarto.  Isso foi bem bizarro, porque qualquer homem que eu já havia conversado não admitiria que sentisse falta de casa.
Nós estávamos muito bem, até que meu celular tocou, era a minha tia me chamando, já eram quatro e meia e nem sombra da minha pessoa. Todos estavam preocupados, foi aí que eu saí correndo, expliquei tudo a Ele e fui embora. Foi como se aquele dia não tivesse existido, foi tão bom que não parecia verdade, mas um dos indícios que ele existia é que ainda tinha um aniversário em família me esperando a dois quilômetros dali.

sábado, 17 de julho de 2010

SUSPIRO de hoje: Os Espinhos e Eu.




Os Espinhos e Eu

Eu estava desavisada e desprotegida, mas me deixei levar pela brisa leve e perfumada que vinha com você. Você deixou que o vento fizesse que pedrinhas míseras entrassem nos meus olhos de café, para não me fazer enxergar que do vento viria uma tempestade.

E foi assim que se iniciou a tormenta em mim, eu não podia vê-lo, mas conseguia senti-lo, era o amor. Eu sabia que você me faria feliz, mas não sabia que demoraria tanto... E no inicio tudo o que eu sentia era o perfume das rosas que você me trazia pela manhã, e o gosto dos bombons que me dava de presente, você queria me agradar.
Depois de algum tempo as flores e os bombons foram desaparecendo, e aos poucos era outono, podaram as rosas e nasciam espinhos, espinhos que me  arranhavam diariamente. A convivência estava nos desgastando. Fui apresentada aos teus defeitos e manias, que me faziam enxergar e ver que você não era mais meu príncipe encantado. 
Os meses foram passando e eu não sabia se aguentaria mais um dia em sua companhia, suas qualidades estavam sendo ofuscadas pelos seus defeitos, eu não tinha consciência de com quem eu estava lidando. As coisas haviam mudado, e meus sentimentos por você mudaram junto, mas o amor não. Não sei como poderíamos chegar a um consenso, aquilo estava fazendo mal a nós dois.
Sinto que passei muitos dos meus melhores momentos com você, despercebidos detalhes que agora aqui, percebo.  Talvez eu tenha passado mais momentos até, mas essas lembranças foram esquecidas.  Eu sofro por antecipação.  Sei que nada é perfeito.  Por isso fui embora, não estava mais dando certo, e quem mais poderia sair machucado?
Mas depois senti a sua falta, e com ela vieram noites mal dormidas, choros e olheiras, eu estava me acabando em lágrimas. Então lá estava eu de novo, de volta a sua porta, com malas e meu coração. É muito fácil amar você, difícil é “desamar-te”, sei lá se isso é possível, mas é melhor não tentar, alguém pode sair machucado...

quinta-feira, 8 de julho de 2010

SUSPIRO de hoje: Nas nuvens






Nas nuvens

Procuro-te em outros olhares, outros rostos, outras vozes, mas te perdi.  Perdi porque nunca o tive, eu sei.  Foi bom enquanto não durou. Você estava vivo em meus pensamentos, em meus sonhos, na minha mente, mas não na vida real, sonhava com você acordada, de olhos abertos. De noite deixava a porta do quarto aberta com a esperança de você ser real.
 Você era onisciente na minha cabeça, e eu não podia controlar. Era engraçado como você viajava e percorria cada pedaço mais obscuro de mim, e eu mal sabia quem você era, era só um sei lá quem, que entrou em mim sabe lá como, e saiu sem eu perceber, mas quando saiu deixou um buraco, que sei, demoraria a fechar, como uma ferida que não curaria.
Eu me fechei para o “outro mundo” e criei um só para você e eu, o seu holograma fazia tudo o que eu mandava, às vezes falhava, mas eu gostava das suas falhas. Eu mimava você, era bom, você era meu bonequinho de estimação, eu fazia você do que quisesse, no nosso mundo.
 E ao poucos fui percebendo que eu precisava disso, precisava sempre de uma pessoa a quem esperar sonhar, planejar e olhar. Eu queria ficar contando os dias para você chegar, saber a que horas te encontrar e onde, mas era impossível, você só era real no nosso mundo. Os meses foram passando e eu nunca mais o vi, o que mais receava é saber que poderia ter passado por você na rua e não ter te reconhecido.  Não ver você me deixava cega.
Cega para o outro mundo, porque para o nosso mundo eu estava sempre enxergando, prestava atenção em cada detalhe do seu rosto e de como você se movia entre as nuvens, o nosso mundo.  Lá quando o sol brilhava, o seu rosto ficava ainda mais angelical e de tudo eu só via você, você era o meu foco. 
Quando me forçavam a acordar dos sonhos me sentia deslocada, de manhã eu não servia pra nada, você estava em mim e eu só pensava em dormir de novo para estar nas nuvens, de tarde eu contava as horas, e de noite, dormia mais cedo. Achavam que eu tinha problemas, sei lá.
Mais semanas se passaram, eu não percebia, dia e horas caiam sobre mim sem eu me dar conta. Eu estava gastando todo o meu tempo no nosso mundo.  O dia em que acordei para o outro mundo tudo havia mudado, era outono e as folhas caiam do outro lado da minha janela, as cores haviam mudado também, então eu percebi: gastei o meu tempo com alguém que não merecia. Levantei da cama e abri a janela, todos estavam fazendo a mesma coisa: Acordando.
Não aguentei o peso e tombei pra trás, caindo sobre a cama que reclamou. Voltando a dormir sonhei com você, o sonho era perfeito, era primavera e as flores destacavam seus olhos castanhos brilhantes, eu corri até você com a esperança de conversarmos, mas você estava estranho, você não me respondeu ficou parado. Por que você me ignorava? Por que fazia como se não me conhecesse? O meu medo de não te reconhecer  tinha desaparecido, percebi que eu te reconheceria a qualquer distância, eu sentiria a sua presença.
No entanto você não me deu importância, me rejeitou todo esse tempo que eu tinha passado construindo o nosso mundo, nas nuvens.  Resolvi me desfazer do nosso mundo, acabei com ele e agora eu vivia só em um mundo. Eu mudei, para melhor, me desprendi de você, não sei se consegui arrancar você de mim, mas isso não fazia mais diferença. Sua indiferença tornava isso insignificante.